sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Amigo

Amanhã será nosso recomeço.
Nossa mais sórdida derrota,
Batalha perdida,
Luta talvez em vão.

Tua causa tão nobre será tua perdição,
Tentação quase cruel.
Esquecer?
Talvez deixar tudo para trás.

O grito preso na garganta te esmaga,
Parece não deixar o ar passar,
Quer explodir pelos ares.

Eu vejo teus olhos aflitos,
Perdidos na multidão.
Teu sorriso é tão peculiar,
E tua melancolia causa espanto.

Somente a fuga!
Pra onde?
Sempre haverá água para remover o sangue.
E o teu corre, calma, lentamente.
E antes que te falte a vida,
O chão já está limpo.
De nada valeu teu sangue.
E tua alma parece se despedaçar no ar.

Parece não ter restado nada.
E tua queda parece ser infinita.
Passastes do inferno,
Nunca chegarás ao céu.
Na consciência não há descanso.

Há rumores de novos tempos,
Há rumores de velhas chagas,
E dos mesmos tormentos.

Eu ainda vejo.
Eternamente verei teus olhos aflitos,
Despercebidos na multidão,
Perdidos,
E quase únicos.

18 de outubro de 2001.

Quatro horas

São quatro horas da tarde,
E meu relógio parou.
As folhas ainda estão verdes,
Pois meu relógio parou.

São quatro horas no tempo e espaço.
Quatro horas de solidão,
Quatro de imensidão.

São apenas quatro horas,
O dia ainda é longo.

E o que são quatro horas diante do infinito.
Nesse infinito o tempo passa.
E não são quatro horas fora do meu tempo.
Meu relógio parou.

Quatro horas e fujo do tempo.
Quatro horas de medo, vazio.
Quatro horas olhando para uma parede branca.
E novamente,
Quatro horas da tarde.

28 de novembro de 2001.

A cerca

As paredes vem e vão.
Paredes cinzas, esburacadas,
Por onde passa o sol,
Paredes de arame farpado.

Um sorriso melancólico paira no ar,
Atrás da porteira.
As linhas ficam ofuscas,
Faltam palavras, soam confusas.
Olhares revelam medo.

Angustiante parede de tijolos velhos,
De barro vermelho,
Que caem aos pedaços,
Enquanto sangra.

E o arame farpado, fechado,
Que cerca a mais bela criatura,
Enferruja nas mãos,
Mas não morre.

E farpado é também seu corpo,
Seu estúpido corpo.
E seus olhos farpados ferem outros olhos farpados,
Estúpidos,
Escondidos.

Atrás da porteira há um açude,
Cheio de arame farpado, mergulhe!

Atrás da porteira,
Parede,
Arame farpado.

07 de maio de 2002.

Ex-caos

Não há mais poesia!
Então há paz em ti?
Não mais embriaguez,
A realidade parece constante,
Como tuas palavras, certas, exatas.

A realidade no momento certo.
Sem motivo, sem sentido.
Violando os sentidos.
Transgredindo a lei púrpura.

Não há mais alucinações.
Nem motivo para o caos.

Abrigo silêncio profundo,
e o mais completo caos.
Abrigo os ares, tenho asas e bebo o vento.
Não sou realidade,
Nem exalo compreensão.

Não escrevo mais versos,
Nem acredito em você.
Não tenho mais pesadelos,
Nem sonhos.

Fica apagado, remoto.
Apenas a sombra de toda a febre de um dia passado.

E Aqui estão todas as palavras!
E você, sabe sentir?
Sabe existir longe do caos?
Mas não tem sentido,
Você não conheçe a dor.

Teu corpo suspenso,
Numa viagem eterna.
E é real?
Naquela noite,
Apenas estranha,
A última porta na parece cinza escuro.

Março de 2002.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Insano

As vezes parece tão belo,
Mas se torna inescrupuloso quando a loucura se aproxima.
Algumas vezes é tão sereno e radiante,
Mas diante de algumas lágrimas torna-se mórbido.

Fragmento de um compasso acelerado,
Contínuos momentos,
Movimentos insinuantes,
Trapaças.

Sementes férteis em solo tórrido não florecem.
Nem as flores duram muito,
Mas exalam a escuridão.

Tardio despertar,
Sentidos apagados,
Em um sonho tão real quanto ela.

Alguns tentam dominar outros tem medo,
Mas ele é mortal,
Ilude com suas nuvens claras, raras de um dia de sol.
Mas é a noite que traz a dor.

Fim de 1999.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Monólogo

Conheço teus caminhos,
E não deixas rastro.
-De onde vens?
Estás tão perto, com olhos fortuitos,
Mas de espiríto presente.
-E sabes quem procuras?
-O que queres conhecer?
Tens medo, eu sei.
Mas te avisei do perigo,
Naquelas manhas frias
Eu te disse que não teria fim.
-E queres sempre um novo começo.
Pois se houvesse constância,
pensarias que já não há razão,
Nenhuma busca mais.
Mas muitas vezes já te disse que a busca não tem fim.
É o que nos move e o que nos faz humanos.
Calo-me agora, minha voz é tua voz.

16 de janeiro de 2004.
11 de agosto de 2011.

O amor e os dias

Quero fugir,
Percorrer as cinzas do teu corpo.
Talvez apenas poucos passos,
De tristeza, umas horas, pouco caos.

Quero correr na grama,
Sentindo somente o gosto das sementes mais férteis.

Quero alguns dias longe do teu corpo,
Do teu cheiro, teus afagos.
Dias de sono inconstante,
E persistente melancolia.

Quero o amor mais doce,
Como nos primeiros dias.
Dias longos, intensos,
Dias loucos, da mais perfeita insanidade.

06 de julho de 2002.

Insensatez

Abraço o mundo insano que te abarca.
Tenho a ligeira impressão do gosto da lágrima.

Só escrevo poesia quando vejo poesia,
Quando choro escrevo lamento.

E que poesia restou (ou nunca existiu?),
Dos meus dias de vã melancolia?

Meu corpo só quer a cama,
Nem música mais quer dançar.

E o vento na rua não convida à vida.
Nem o desastroso corpo que cambaleia pelos cantos temendo um rompante de insensatez!

2004.

A dona da chuva

Trago mais que chuva,
Para alcançar teus sentidos.
Tenho mais sentidos,
que teus sonhos vagos.
Tenho mais sonhos,
Que nossa mente pode alcançar.

Ao alcance do vento.
Em poder do tempo!
Caminhando nas estradas marrons
Da tua consciência!
É irreverente teu semblante,
Louco, inocente.

Cálida tempestade!
Mais que um fragmento
Da tua inquietação.
Mais que um vasto delírio
Dos teus pensamentos.

12 de março de 2002.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Palco vazio

Grande palco vazio.
Belas luzes apagadas,
Apenas esperando o tempo passar.

Então tomo o palco,
Sinto-me viva!
Com palavras me sobressalto,
E minha essência flui.

São as pedras azuis-violeta da tua imaginação!

Palco vazio,
Por minha indeterminação.

Minhas forças obscuras não emergem das sombras.
E a expressão do meu rosto talvez seja outra.

Ah! Só o vento com sua beleza quase terna busca alcançar meus pensamentos.
E ainda, palco vazio!

14 de novembro de 2001.

Teus dias

Fale-me dos teus dias.
Da maré clama,
E da tua revolta.

Fale-me dos teus tempestuosos dias.
Dos teus dias calmos.
Tão simples,
E passados dias.

Fale-me das tardes dos teus dias.
E das tuas noites insanas!

Fale-me da inquietação do teu tempo.
Dos dias de chuva,
Da solidão!

Fale-me da distância.
Do remoto vislumbre dos dias de outono.
Do vento e dos dias mornos.

Fale-me da coragem.
Dos dias de tempestade.
Do cheiro da terra molhada pela chuva.

Fale-me dos dias de consciência.
De vertigem!
Ou mesmo de derrota.

Fale-me dos dias atônitos, cruéis e puros.
Alegres,
Ou apenas dias da tua existência,
Dentro das horas perdidas nos dias.

Fale-me dos dias.
Da tua vil virtude!
E desequilibrio sólido.

Fale-me de todos os dias.
Insanos ou não.
E de todas as noites inteiras,
vendo o tempo passar!

Fale-me dos sonhos que se escondem nos teus dias.
E das trevas ocasionais da tua realidade!

Fale-me da brisa que embala teus ternos dias,
De sol quente,
E da busca do frescor na sombra duma árvore.

Fale-me da tua luta,
Guerra contra o céu.
Da tua vontade,
E irritante persistência.

Fale-me daquele momento,
Da tua alma transparente,
Pensamentos quase apagados,
E corpo quente!

[...]

Fale-me do teu último dia.
Da sombra que se estendia por sobre teu corpo.
Da última sensação,
Do último momento.

10 de novembro de 2001.

O vento sopra em todas as direções

O vento sopra em todas as direções.
O sentido vaga em busca da memória.
O sonho busca em todas as dimensões,
A solução dos conflitos.

O vento sopra em todas as direções.
Vaga no infinito em busca de um amor,
Perdido n'alguma esquina.
A luz busca obstinação entre olhos aflitos.

O vento sopra em todas as direções.
Nuvens claras formam redemoinhos transparentes.
A chuva busca as luzes reflexas no horizonte,
Naufraga, se perde na terra.

O vento sopra em todas as direções.
Vaga na memória!
Nas palavras,
Que surgem da tempestade.

1998.

Não há nada

A vida parece tão insana as vezes.
Louca por si própria,
Própria por si mesma.
Tão descoordenada e intensa,
Perdida em uma rotina.
E um simples por do sol no inverno.

Na solidão da lembrança!
Presa dentro de algumas palavras mais loucas ainda.

Sem sentido, contínua, infinita e vazia!
Tão sólida e frágil.
Tento segui-la com meus passos lentos e impróprios.

Dizer o quê?
Não há nada a dizer.

Palavras são eternas e vagam com o tempo.
São esquecidas!
O papel vira cinza,
Tudo vira pó!

E o que fica?
Não fica nada.

O nada é imenso disperso no infinito.
É o que resta, e o que fica depois da chuva.
É o que faz a tempestade turbilhar dentro de mim.

E quando te encontrar, o que vou dizer?
Talvez eu lembre de perguntar se um dia fez sol diante dos teus olhos.
Então direi que a chuva já passou.
E só há o som dos teus passos seguindo em frente.
E o silêncio em torno de mim.

14 de outubro de 1999.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Os outros

Tenho entre meus lábios a carne ainda fresca.
Meu corpo ou a morte?

Tenho a mão esquálida,
Sangue nas veias e rubor no rosto.

Tenho vontade,
Sou querer.

Tenho febre,
E ânsia,
E desespero.

Tenho sentidos inconstantes,
E pulsa,
Gelada ou quente.

Tenho a voz cravejada,
Não sou pedra, nem de gesso.
Faltam palavras e cores.
Vem á tona sentidos adormecidos.

Tenho outros seres.
Sou todos eles,
Nenhum.

Num lugar distante não há ser,
Nem tempo,
Nem espaço.

As vezes abrigo o caos.
Não há caos.

Tenho rostos alados,
Quereres infindos,
Perturbações constantes.

05 de junho de 2004.

O "eu" poeta

Queria te trazer um pouco de poesia.
Ser poeta, anti-profeta do tempo.
Queria te trazer um pouco do amargo da minha língua,
Da loucura das frases soltas.
Mas tua razão se esquiva pelos cantos.

Queria te trazer a anti-sabedoria,
E toda a confusão dos meus conceitos.
Fugir da lógica e abraçar a não-verdade.

Mas que poeta sou?
Que falso poeta! Tão reto nas linhas.
Seguindo os olhos fortuitos que desviam a dúvida.

Queria te trazer o medo,
O mais completo caos.
Que por completo não é caos, mas linearidade.

Queria te trazer a cegueira do brilho extremo.
A imperfeição das palavras.
Queria te trazer apenas o momento,
O devaneio dos segundos.

Mas duvido!
E duvido de tudo.
Do alcance,
Do significado.

Não trago mais que inconstância.
Não sou,
Não permaneço.
Sou aparência e me desfaço.

28 de março de 2004, na porta da frente da casa lá fora.

Realidades




Está um bom dia hoje.
Posso agora dizer que estou sóbria.
A realidade parece mais visível.

Longe da melancolia,
Afasto uns poucos passos.

Quero uma sobriedade sólida,
Não mais o desatino constante.

Levo memórias,
Pedaços de mim,
Fragmentos que lembram dias ensolarados.

Guardo em mim alguns momentos dispersos,
E essa estranha felicidade que me consome até os ossos.

Vejo o movimento da água na parede de tijolos vermelhos.
Abstraio a realidade por uma nova realidade,
Plena de sentido,
Intenso sentido,
Como os sons que ouço agora.

Pelo vento vem vagando a memória.
Os mesmos ventos que trazem o crepúsculo,
Trazem o eu carregado em seus braços.

24 de julho de 2004, no antigo frigorífico Anglo.
Fotografia da lua nascente em 01 de agosto de 2023.

Mais uma vez o tempo

Tendo tempo pude perceber sinais de incompreensão.
Sinais de delírio,
Formas nas paredes.
Vi palavras escritas em velhos papéis.
Tive desassossego,
Medo da melancolia de um dia vazio.

Passam segundos, minutos, horas...
E meu relógio não pára.

À minha frente pensamentos inquietos.
E uma folha de papel rasgado.
O cheiro do pó que se acumula.
E não há humanidade,
Nem desapego.

A sala está vazia!
Tinha tantos planos.
Alguns ainda tenho,
Pouco perdidos, confusos.

Escrevo a anti-poesia.
Relatos da realidade inventada,
Pesada como algodão molhado,
Cheio de pó do tempo.

05 de julho de 2004.

As vozes do tempo


 

 

Da janela do meu quarto eu vejo passar a multidão.
Eu sou a janela,
E sou a multidão.
Mas não o quarto vazio.

Com um cigarro ainda aceso espero passar o tempo.
Espero amanhecer e desvaneço.

Com pouca calma,
Sentada nas dunas de vento,
Canto as vozes do tempo.

S/D na máquina de escrever.

Fotografia de 21 de novembro de 2021.

Eis aqui

A cada passo,
Acelera o descompasso.
Mais palavras são ditas,
No ritmo das mentiras onde se escreve a poesia.
Avassala o tempo o desejo incontido de amar mais que a morte.
E quando a lucidez retorna, o que será afinal?

Sofro de demasiada inquietação,
Persistente lucidez,
E ligeira aversão à realidade.


Transcorre o tempo,
E estou aqui.
Percorrem por mim mágoas que o vento não leva.
Permanece uma leve inquietação
Quando passo pelos prantos mudos da incerteza
Que distorcem a direção possível.


Velhos versos
Que calo aqui
Trafegam submersos
No abrigo da certeza.


S/D, na máquina de escrever.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Existência

Silêncio da razão agita meus pensamentos. Enigma do olhar, sublime revela os mistérios da existência. Assim como o perfume de certas flores muito belas, se desmancha em lágrimas de um néctar puro e suave, se espalha pelas pétalas, lentamente toca o chão.

O sol da manhã e o canto dos pássaros deixa suave a brisa que leva as pétalas das flores. O mistério paira, leva à loucura. A ilusão toma conta e faz a alma voar pelo espaço, sem tempo nem direção.

O corpo eleva-se às mais profundas sensações. A luz enche o espaço, se torna incandescente. Tudo fica em chamas. A morte é o fim.

Pelotas, 12 de abril de 1997.

Entre as paredes do meu quarto

O vazio está entre quatro paredes.
Nelas prendem-se sonhos e ilusões.
Nas paredes do meu quarto eu vejo você,
Em todas as paredes.

Então olho em seus olhos e não vejo nada.
Nada além do infinito.
Nada! Mas eles me dizem muito.
Dizem que as paredes são minha prisão,
Que fora delas existe o nada,
Que o abismo me dominará.

Entre essas paredes as formas criam vida,
Me assombram e dão medo.
Formas cabalísticas me seguem,
Dizem que o vazio é o meu lugar.

Das paredes do meu quarto vem as luzes,
Que transpiram a minha escuridão.
O ar que respiro,
Dói ao entrar em meu corpo.

Das paredes do meu quarto ouço vozes,
Vozes cruéis e velozes que atormentam minha escuridão.

Através das paredes o ar sinistro,
O medo!
Sinto gelar-me a alma, regada por minhas lágrimas, um suspiro infernal.
Delírio, dor, pensamentos obscuros.
Vozes, gritos delirantes, paz.

Atráves das paredes do meu quarto eu vejo.
Vejo vidas e soluços lacrimejantes.
Vidas sofridas, mãos vis.
Vejo ondas que vem do mar pra me levar.
Sombras que buscam paz a meu redor.

Através das paredes do meu quarto sinto a felicidade distante,
Querendo subitamente chegar a mim.

Sinto um amor acalentado em palavras fúteis.
Um amor inexistênte,
Torturador e tempestuoso.

Sinto finalmente,
Apenas o vazio entre as paredes do meu quarto.

Pelotas, 1998.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Fotografia

Tenho algumas marcas.
Mais do que as que há em meu rosto.

Hoje não quero ver fotografias.
Ontem à noite vi teu rosto.
Hoje vi o meu no espelho.

Me lembrei de pensar sobre o quanto é possível ver.
Ainda me sinto muito bem quando te vejo sorrir.

Acho que deveria rir mais.
Desprezar menos o silêncio.

Necessito ter fôlego,
Não parar quando há vento.

Mas também é verdade,
Já venta faz muito tempo.

Necessito ter fôlego,
Não parar quando há vento.

Mas também é verdade,
Já venta faz muito tempo.

03 de junho de 2005.

As palavras

Tuas palavras soam distantes.
Como ocas, vazias.

Minhas palavras faltam.
Soam perplexas diante do caos.

[...].

07 de junho de 2004.

Espera

Tenho andado impaciente,
Com a garganta seca,
A voz trêmula.

Tenho tido frio,
Desespero.

Tenho estado aqui, sentada, vendo o tempo passar.

Tenho tido sonhos estranhos,
Visões inaudíveis.

Tenho escutado a tua voz,
E outras vozes,
Milhares de vozes.
Algumas sem som.

Tenho me sentido forte,
Com medo.

Tenho sido muitas para manter constância.

Tenho passado ao lado da consciência e calada continuo.

Enquanto espero ainda fumo meu cigarro!

Pelotas - POA, C. 2004 - c. 2011.

A dor

Na dança do fogo baila atenta!
E chama os ventos.
E canta mágoas.

O fogo não apaga.
Mas luz não é possível.
Só bailar inerte.

A chama clama por descanço, sobriedade.
Mas dança ébria,
Sem pesadelos.

Canta! Que tua voz é chama.
Mas ela esvai-se aos poucos e proclama a dor.

Pelotas, 04/08/2004.

O baile

Corpos em movimento,
Mentes que bailam no sentido inebriante da música.

No compasso dos corpos teus sentidos se inebriam,
Se perdem aos poucos.

Tua pele exala ânsia, torpor.
Teus movimentos dizem, como dizem do teu ser.

Ser que dança, que baila, atormenta!
Ser que sente, que vibra com o som e tem, por fim, os sentidos inertes.

Desatino!
Breve lamento que dança comigo,
Embala meu corpo,
Pede música,
O fim do lamento,
O início do baile que aprisiona o tormento.

Enquanto tem os sentidos dormentes sente o movimento das mãos numa mesa de bar.
A fumaça do cigarro parece dissipar-se rapidamente.

Sem data. Provavelmente 2004.