sábado, 17 de fevereiro de 2024

É tempo ainda





 Desde o fim da tarde 

Me pego a observar

O ar fresco

A vida que brota

A calma de um sábado

Num solo onde me sinto raiz

Cuidei da terra

E vejo crescer as árvores que plantei 

Vejo as cores das flores

Os tons de verde

Posso ouvir o canto dos pássaros

Que cada vez mais

Vêm me visitar

Os tempos são difíceis 

Mas como dizia Brecht

Também há de se cantar os tempos de escuridão

Mas esses tempos são mais de claridade

Luzes elétricas e excesso de calor

A claridade que hipnotiza

Seduz pelo consumo

E destrói a mãe natureza.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Andanças

Tanto escrevi sobre o tempo
Sem, no entanto, senti-lo passar
Agora olho o passado
Com certo estranhamento
Querendo encontrar vestígios de mim
Quando vejo num filme antigo uma frase de T.S. Eliot
Que li há décadas porque ouvi a referência numa música do Bob Dylan
Pergunto à mim mesma
Que restou daquele 'eu' perdido nas bibliotecas?
Que tinha mais sonhos
E mais melancolia?
O quanto os dias de sol
As andanças na areia quente
As trilhas na floresta
Os pés na grama verde  

Afastaram as sombras da morte que caminhavam comigo?

sábado, 4 de novembro de 2023

Não quero ver imagens da guerra

 Não quero ver as imagens da guerra

Nem por isso ela deixa de existir

Não quero ver, mas sinto que preciso saber o que se passa

E vejo mensagens

Ouço relatos, notícias

Universidades destruídas

Corpos apodrecendo ao relento

Crianças pagando com a vida

O mar estava agitado

O dia calmo

Mas bombas explodem longe daqui

E milhares de corpos inocentes pagam pela intransigência do poder

Aqui também acontece a guerra

Um líder indígena é morto por lutar por sua terra

Jovens são mortos todos os dias

A gente se acostuma,

Mas não devia

É preciso parar a guerra

domingo, 29 de outubro de 2023

O sol

 


O sol brilhou com força neste domingo, mas parece que em breve a chuva vai voltar. Tem dado pra sentir na pele a questão das mudanças no clima. Será que ainda temos ponto de retorno? Destruição, guerras de milícias por aqui, um guerra terrível contra o povo Palestino, que não é o Hamas. Me vejo longe do cenário do caos, tento não ver muitas imagens, me informo, mas não assisto demais, pra não me deixar afetar. Precisamos estar vivas e fortes se quisermos seguir.

sábado, 14 de outubro de 2023

Chão



Saio desse chão de solidão

Mergulho no ser mais profundo


Fecho os olhos, 

Inspiro

E sinto dentro de mim uma alma.


Fotografia em 13 de outubro da orquídea que ganhei da Érica - Jardim de Abayomi




quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Durezas

 

 

A vida é dura às vezes, 
Na verdade, quando precisamos estar imersas no mundo
Na rotina do trabalho e das instituições 
Ela é dura muitas vezes.

Chegamos muitas vezes exaustas
Sentindo que somos incapazes
De resolver a maioria dos conflitos
Sofrimentos, problemas
Que se abrem no nosso convívio

É preciso ser forte
Resistir
Permanecer
É o jardim que me sustenta
Que me impede de fugir
Uma fuga imprecisa, é certo
Mas um desejo de fuga

É o jardim que me faz aquietar
Respirar
Silenciar por uns instantes
O turbilhão de pensamentos que acompanha o
Estar no mundo.

E é preciso estar no mundo
É pra isso que estamos aqui.



quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Paz







Reescrever a vida
Encontrar novos caminhos
Esquecer o desatino
E seguir em frente

Remover o pó que se acumula
Nas pesadas linhas do tempo
Fazer do caos
Um novo recomeço

Compreender a dor
Que parecia estar ausente
Um ferida de décadas
Que se fez presente

Entender que a dor faz parte
Sem ter desassossego
Passa, tudo passa
Até mesmo a vida

E que fazer?
Não há nada a fazer
Ficar em paz e respirar
Enquanto ainda estou presente.

POema escrito em 17 de agosto de 2023. Dedicado à Elsa e Otto.
Foto de 18 de novembro de 2016.



quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Memory



I bring you in my heart, father

I'm so grateful

For the life

Music

For the wildness

Force

And the calm that I can see in your eyes

I'm grateful for my sister

And for your sister, too


Poema escrito em 2022, fotografia sem data com inscrição "Antônio - Cláudio - Teobaldo". Agradeço imensamente à Sofia Aseff pela revisão do texto.

domingo, 23 de julho de 2023

Mergulho

 



Desaguo desse mar de desencanto

Retiro meus andrajos

Visto roupa limpa

Aromo a casa com cravo


As distâncias não são medidas exatas

Vem e vão no tempo

Que não é linear como se crê


Emerjo das águas profundas com nova vida

Embora com mais sinais na face

Essa mesma que traz cicatrizes antigas

De tempos que tinham luz diferente


Retorno desse mergulho d’alma

E não estou confusa

Nem desatenta


Trago novo entendimento

Da crueza da vida

Dos descompassos humanos

Das dificuldades do amor. 


Escrito em 21 de julho de 2023.

Fotografia de 01 de agosto 2023.


terça-feira, 11 de julho de 2023

Sempre em frente

 


 

Não temo mais pelo descompasso
Nem acho encanto no atropelo
A magia não está no efêmero
Nem tampouco na permanência
Seguem dentro de mim as memórias do vivido
E a plenitude de dias que talvez não sejam reais
E quando olho pro presente, todos esses restos, fragmentos, fazem parte
Não sou a mesma menina que já tinha umas cicatrizes
Tenho outras,
Algumas físicas
Outras espirituais,
Emocionais
Sei de quase todos os meus erros
E não me arrependo
Fazem parte
E sempre existirão
Não tenho a pretensão de ser perfeita
Sou humana e faço o que  posso
É, ainda reclamo demais e sou preguiçosa.

Poema escrito em 11 de julho, fotografia de do dia 1o do mesmo mês de 2023.

terça-feira, 4 de julho de 2023

She

 


she sleeps in the sand

in a perfect blue sky

she feels the moon

every day

she cry a few days

but she smiles many others

she is human

and want to be loved

she listens to summertime

and she walks on the street

she is free

and happy because she owns herself

 

Poema escrito em 04/07/2023. Foto do sol nascente do primeiro dia do ano por Érica Polo.

Gracias à Sofia Assef pela correção. 

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Ressurgir




A lua fina como uma navalha
Despontava no céu
O frio até que era ameno
Mas lembrava aquelas noites mais longas
De frio mais intenso 
À margem do mundo
Numa casa de barro e terra
O fogo queimando
Para aquecer os corpos

Foi onde nasci
E são memórias que não tenho
Mas que fazem parte de mim
Que sentido haverá nisso tudo?
O amor, ah o amor,
Como se fosse algo mágico encontrado pelo caminho.
Já não acredito mais nesse amor romântico
Mas a fé retorna aos poucos
Como das cinzas
A fé no sentido da vida.

Terá de haver algo maior 
Que explique todas essas inquietações e sofrimentos
Enquanto vou buscando esses sentidos
Cultivo meu jardim
E tenho a certeza das vidas que brotam e se propagam.
E morrem também, como tudo um dia. 
Pra ressurgir, renascer, permanecer em espírito.


A primeira frase veio de uma memória da minha mãe, dos poemas que ela riscava à faca na máquina de costura.
A foto é do meu (nosso) jardim de 20 de junho de 2023, primeiro dia do meu ciclo menstrual. A lua fina como uma navalha não pôde ser visualizada neste Junho porque o tempo estava nublado. Escrevo na noite do dia 23.

terça-feira, 6 de junho de 2023

Para ver o sol

 

Há poesia na rosa
E também no espinho.
Tenho muitos sonhos
Gritos desesperados
Vozes rebeldes
E algumas doses de insensatez.

Canto sons inebriantes
Habito noites sem sono
Tenho palavras não ditas
E voando em torno de mim
Mosquitos verdes da incompreensão.

Há poesia no grito
E também no silêncio.
Ouço muitas vozes
Não tenho voz!
E grito no silêncio perturbador da melancolia,
Sempre correndo para ver o sol.

Poema escrito em Pelotas, 30 de maio de 2004. Fotografia do sol nascendo na praia do Moçambique, em 02 de novembro de 2020.

domingo, 4 de junho de 2023

A paz da morte

 

Chegando
Eu vi aquela paz.
Que paz era aquela?
Paz da guerra entre os mortos.
Paz doente, após a tempestade devastar.
 
A paz silenciosa do medo não abandona.
Segue sempre dentro de nossos corações.
Dias feios de angústia
Dias de paz sem ter havido equilíbrio.
 
Paz da fome dos que descansam em paz.
E há cinzas
Do incêndio das vozes caladas
Pra manter a paz cruel,
Fétida, inescrupulosa. 

Paz,
Para não ferir teus olhos com o caos.
O preço da paz é nosso sangue.
E não é paz à teu lado,
É guerra.
 
Escrito em Pelotas ago/set 2001. 
Fotografia de dezembro de 2021. 


domingo, 23 de abril de 2023

Cada dia

 


Cada dia é mais um dia,

Desses dias, muitos recomeços

No presente, volta e meia

No meio da estrada

Me pergunto sobre os caminhos que escolhi

Sobre as trilhas que percorri sem muita certeza


Gosto de estar aqui

Sinto mudanças em mim

Quero pintar todas as paredes riscadas

Com fragmentos de poesia

O passado não muda

Mas sempre é possível começar de novo


Já não vivo no mesmo lugar,

Quase nunca sinto solidão

E tenho o mar por perto

Um jardim que me dá enorme alegria

E umas horas longe do turbilhão dos pensamentos.


Tenho tempo (preciso desse tempo! Meu, só pra mim!) pra ouvir música

E escrever essas bobagens sem rima,

E assistir uns filmes

E cantar desafinada…

segunda-feira, 17 de abril de 2023

De uma terça-feira qualquer

 


Pequenas alegrias do cotidiano

Nos movem, embalam

Os sorrisos des estudantes

Me fazem rir também


Não, nada é muito grandioso pra mim no tempo presente

Mas a simplicidade traz sentido pra vida

Voltar a subir escadas com facilidade

Depois do joelho machucado por uns meses

Voltar a plantar

Cuidar do jardim


A leveza das amizades

Que traz tanta plenitude

Pra minha casmurrice de historiadora


Sim, o mundo das pessoas é caótico e complicado

Mas viver é bom

Há beleza também.


Sempre há possibilidade de deixar de lado o atropelo,

A aceleração.


E sim, precisamos de mudanças rápidas

Mas a cultura é lenta, está arraigada em nós.

Então, boa parte do caminho,

É também paciência.

sábado, 15 de abril de 2023

Tempo presente

 


Tempos vividos em passos lentos,

Ontem o pampa, hoje o mar

O campo, o mato, a areia da praia


Desde quando teve início o atropelo?

Sento pra respirar,

Respiro pra sentir a vida.


Minhas lágrimas já não são desespero,

São desabafo, suspiro

Inspiro profundamente


Tempos que se movem de forma inconstante

E quando a consciência retorna

Por onde terei andado​?


O tempo flui por todos os caminhos onde andei

Hoje caminho devagar,

Não há pressa.


Existo nesse presente

Que consistente

Reúne todos os vestígios de mim.


quarta-feira, 5 de abril de 2023

Pampa

 


 

Longas distâncias percorridas
Tempo lento dos passos atentos
Campos da Serra dos Tapes
Saudades da infância
Do pôr do sol em silêncio
Dum mundo pleno de alegria e sentido

quarta-feira, 29 de março de 2023

Enquanto a dor não passa.

 

Depois da dor vem o silêncio
A sensação de acordar
E não ter muito paladar
 
Depois da dor vem o sentimento
De termos escapado de mais dor
 
Tudo passa e o sorriso volta
Se a integridade está presente
 
E quando a dor volta?
E enquanto a dor não passa...
Vou desenhando
Rabiscando a vida
Colocando no papel 
Um pouco das chamas do coração.
 
Verão/2023.
Depois que fui me dar conta: o desenho é inspirado em 'last time i saw Richard' da maravilhosa Joni Mitchell.

quarta-feira, 8 de março de 2023

Quero a beleza e a força das mulheres velhas.


Quero poemas novos
Que cantem o amor ao humano
Em sua plenitude

O amor nos olhos serenos das mulheres velhas.
Quero enamorar-me das mulheres velhas.

Dessas que carregam o peso dos anos vividos
Em uma sociedade machista,
E ainda assim, trazem um olhar suave.

Quero a força e a coragem das mulheres velhas,
Das trabalhadoras, mulheres guerreiras.
Como minha vizinha recicladora,
Que sempre diz bom dia com um sorriso largo,
Mesmo empurrando ela mesma o carrinho em que cata os lixos das gentes que consomem e se esquecem das gentes.

Escrito em 18 de junho de 2018.