terça-feira, 30 de setembro de 2014

Reflexões de apartamento



A vida tem o sentido que se dá!
Nesta cidade tão grande,
Tão deserta e tão vazia,
Me consolam apenas o canto dos pássaros e o latido dos cães,
talvez presos em apartamentos (celas luxuosas [ou não]), como eu.

Podia esquecer todas as músicas que me deixam feliz,
Deitar para o chão toda a poesia.
E de que valeria esse abandono?
Sem isso o mundo fica mais cinza ainda!

Eu quero que pare agora o movimento das fábricas!
Já existem coisas demais neste mundo.
Chega, basta de acumular tanto,
E produzir tanto lixo.

Lembro da literatura que retrata o século XIX.
As pessoas tinham poucos roupas.

Agora temos um guarda-roupa atulhado,
Cheio de trapos que devem dizer quem somos.
Enquanto alguns muitos passam frio.

Temos dificuldade de dar,
Dar sem esperar algo em troca,
Quando damos e não recebemos nos sentimos frustrados,
Pelo menos é o que vejo em muitas situações.

Queria ter a esperança que demonstrava Marcel Mauss no começo do século XX.
Esse antropólogo francês acreditava que o movimento de trabalhadores se fortaleceria,
Porque as as pessoas se dariam conta que estavam vendendo algo mais do que sua força de trabalho,
Estavam vendendo seu tempo de vida. (mas é verdade que ele também acreditava na condescendência da burguesia).

As coisas precisam circular de outra forma que não a comercial.
Caso contrário continuaremos nos matando de trabalhar para encher os bolsos dos capitalistas,
E consumir coisas que vão virar lixo.

Concordo com o pessoal do M.A.U.S.S (Movimento anti-utilitarista nas ciências sociais), se é que da pouca leitura os entendi bem.
É preciso um retorno à dádiva.

Mas também é preciso uma enorme mudança na mentalidade,
para que dar não seja sinônimo de poder,
E para que receber não seja sintoma de inferioridade.
É, é um longo caminho.

Porto Alegre, 20 de julho de 2012.

A fotografia é do meu apartamento feita pela Elisa Gottfried.

Sol poente

domingo, 21 de setembro de 2014

De passagem

Dentro em pouco já me vou,
Deste mundo
E de outros mundos.

Aprendi a caminhar,
Deixando um rastro em cada canto.

Hoje, não quero ter tanto,
Para não deixar tanto.

Tanto de mim,
E tanto lixo.

Pois muito do que a mim serviu,
Não servirá a outros.