sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Mate


 

 

Somente o silêncio

Este amargo companheiro

Das madrugadas vazias

Das noites mal dormidas


Pra quebrar o silêncio

Apenas o canto do grilo

E de menos amargo em si

O mate das belas manhãs serenas de quase outono. 



Madrugada de 18 de março de 2012

À espera da manhã.


segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Mulher

 
 
Sou mulher,
Trabalhadora.
E não me canso de lutar!

Sou mulher, 
Sangue vermelho, 
Que muda com a lua.

Sou mulher,
Corpo, mente, 
E espírito.

domingo, 9 de agosto de 2020

Me fortalecer só








Estar só
Embriagada de mim mesma
Será um prenúncio da solidão eterna
à qual a alma talvez esteja predestinada?

Me enfrentar só
Suportar o vazio
Que não é vazio
Porque o preencho com palavras
Sentimentos confusos
ideias delirantes
Um amor inventado
Em meio à solitude destes dias tão insanos.

Me fortalecer só
Permanecer lúcida
Em meio ao caos deste mundo
Que mais parece uma ficção científica dos anos 70.

Sobreviver só
Tentar viver nestes dias
Lembrar que ainda respiro
E que sou capaz de criar
Uma realidade menos atroz
Do que aquela que me é imposta
Pelo mundo dos homens.

Ouvindo e inspirada pelo rap "só" do Kamau,
Em 23 de maio de 2020.

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

O retorno do tempo presente


De repente faltou luz e a gente se viu no silêncio. Ou permanecíamos com ele, ou conversávamos. Fazia muito tempo que as palavras eram poucas entre a gente. A televisão tava sempre ligada, as mensagens nas redes sociais não paravam de chegar. O dia passava num piscar de olhos e a noite era feita de luzes artificiais.

A gente não sabia, não suportava o silêncio, então eu lhe pedi que me contasse uma história. 
Ela disse: - Hã, como assim contar uma história, uma história real, uma história inventada? 
- Ah tanto faz, eu disse, mas me conta uma história bonita, faz tanto tempo que não ouço uma história bonita.

- Poxa, e agora! Vou ter que pensar. Deixa ver... Tá bom, então vou contar uma história sobre um futuro improvável, no qual haja amor.

"Certo dia acabou a energia elétrica das cidades todas, um colapso inexplicável, parecia que a energia tinha se recusado a circular. As pessoas tiveram que parar, se olhar, se ouvir, se tocar para aquecer os corpos. Os técnicos não conseguiam entender, parecia que as leis da física haviam mudado .

Nos primeiros dias a gente ficou em casa, parecia que voltar a fazer sexo era a melhor alternativa pra passar o tempo. Logo a gente percebeu que precisava interagir com outras pessoas. Em algumas semanas se formaram vários grupos no bairro. Grupos de dança, de teatro, de música, de jogos os mais variados. A gente aproveitava muito as noites de lua cheia, e nas de lua escura se recolhia um pouco ou fazia fogueira. Voltei a me sentir viva, exuberante e íntegra em corpo e espírito. Quando olhei pra atrás não entendi como podíamos viver aquela vida tão vazia de sentido."

Quando ela terminou de falar meu rosto tava tomado de lágrimas, ela percebeu e me deu um beijo longo e delicioso como dos primeiros que trocamos há muito tempo passado.