sábado, 30 de julho de 2011

Sobre a existência do tempo

O tempo se dá a observar.
Pára e se limita ao contar das horas.

O tempo das notas de música.
É onde venta o sentido simples de existir.
Mesmo onde o tempo mostra suas garras e aparta qualquer controle.

Apaga-se o tempo dos relógios.
Os dias afastam-se da racionalidade.
É onde venta outro tempo.
Outra percepção do sentido.
Outro tempo distante das horas.
E até mesmo do tempo do sol.

Do tempo das marés vem o vento,
Que dá sentido à sequência de momentos dispersos.

- Que querias dizer sobre o Tempo?
- Não tenho muito a dizer. Percebo o tempo inconstante.
Perdido em seu próprio sentido, surgido das cinzas, do tempo perdido.
E antes nunca encontrado.
Tempo que não existe é existido!

Na minha máquina de escrever. c. 2004/5

Basta!

Que chova...
Que caiam pedaços de mim.
Que caibam em passos mais lentos,
Nos rastros do vento.

Que nas calcadas de uma rua qualquer não haja apenas pedras.
Que a gente toda se misture em passos atentos.

Chega! diz o vento,
Já não percorre as mesmas ruas.

Basta! diz o tempo.
Um pouco de mim sempre fica na calçada vazia.

Sem data. Talvez 2004.

O trem e os dias I

Longo dia.
Espírito inexistênte,
Ou longe demais.

Língua veloz,
Um só relâmpago!

E nós, ainda aqui,
Esperando.
Bebendo da fonte esquecida.
A voz, quase não ouvida.

Mas quem ainda espera?
Além de nós,
Quase todos esperam,
De tanto gritar não tem mais voz.

Quase perdidos,
Ou esquecidos.
Semblante sereno da pálida dor.

Pelotas, Carnaval de 2004.

O trem e os dias II

Que queremos por fim?
Não tem som nossa voz,
Nem sentido nossas palavras.

Nós estamos aqui,
Numa mesa de bar
E só restou um vaso na janela,
E a quietude.

Palavras não exalam...
Paraíso ou cinamomo?
Palavras impondo ao que se cala.

E a menina que corre na rua de pés descalços...
Descalças ideias as minhas,
Vagando entre a mesa do bar e a sarjeta.

Num bar de esquina, 10 de fevereiro de 2004.

O trem e os dias III

Sei que dirás: estou aqui.
E quem irá perceber que o trem está partindo?

Mesmo sem levar passageiros,
Só carga inerte,
Sentimentos passados,
Segue pelos trilhos com a frieza que lhe é peculiar.

E quem ainda quer gritar?
Atravessar os vagões do trem,
Ouvir o apito do trem,
Seguindo a vã melancolia do trem que parte.

E sigo na estação,
Como se partisse.
O corpo que fica abandona os trilhos.

Em casa, na rua Albuquerque de Barros em Pelotas.

O trem e os dias IV

Perto dos trilhos do trem.
A estação inundada de água doce.
Eu ainda inerte.

É o mesmo céu,
Num azul mais profundo.
E o que venho pedir às palavras tua voz confunde.

Mas fica sempre a certeza do maciço ferro dos trilhos.
E nenhum sentimento! Nem a vida toda, apaga a tua voz.

E o mesmo tempo,
Que apodrece a madeira,
Que esvai a vida,
Não apaga tua voz.

Pelotas. No "quadrado" à tarde.

Onde passa o tempo

Quando começo a ficar só,
Tendo sentido no vazio,
Busco um pouco de mim.

Próximo segundo afoito só diz da incerteza.
De que será feito o próximo tempo?

O medo passa rente!
Fina lâmina que destrói concreto.

Nem só de concretude vivo,
Tão pouco me sustento da solidão.
E quando retorno... É onde passa o tempo.

Escrito possivelmente em 2004.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A dança

Panos coloridos ao fundo.
E eu tentando deter o tempo.
Ou mesmo fugir-lhe.
Que me persegue em horas inertes.
Cambaleia atrás de mim.
Tem estado aqui nos últimos dias.
Tem invadido meus sonhos.
Até dançou comigo certa vez.
Percorre minhas linhas como se fossem suas.

E que desejo eu além do corpo?
Da beleza da expressão?
E da poesia nos passos da dança?

E que ser sou?
Que danço sem corpo.
Pairo em torno das palavras.
E permaneço,
Em pequeno êxtase e morte repentina.

Pelotas, início de abril de 2004.

De mim

Que graça tem
A minha estupidez,
Minha lucidez vulgar?

Me sinto distante,
Longe estou do espelho.
Que calma permanece agora.
Quem fala por mim?

Será que ainda estou aqui?
Mesmo calada?
Calada sim,
Entoando cânticos silenciosos,
Dizendo palavras apenas para ocupar espaço.

Queria viver sempre aqui.
Estar o tempo todo.
Permanecer constante.

Mas a lucidez me afasta.
Queria poder estar contigo o tempo todo.
Ser. Existir por mais de algumas horas.

Em curtos espaços de tempo fujo do meu lugar.
Fico presa em mim,
Sem criar nenhuma realidade,
Como se não existisse.

E se existo,
Como permanecer?

Preciso fugir por estas linhas.
Escapar nas palavras,
Mesmo que poucas palavras.
Palavras vazias às vezes,
Mas cheias de mim.

Me esvaio pelas frestas da porta de madeira que não me prende,
Me aparta às vezes.
Escapo pelos cantos das páginas em branco.
Corro rapidamente pelas linhas vazias.

E o que sou, afinal?
Apenas traços dispersos,
Realidades fragmentadas.
E onde existo?
Onde realmente existo?
Nestas linhas ou palavras, ou só na imaginação?

Sei, sou incoerênte.
Esvai-se também minha quietude.
Quero gritar!
Mesmo que meus gritos nada signifiquem.

Onde se ouve minha voz?
Quando venho e quando vou?

Não deixo ratro, nem lembrança.
Apenas palavras que dizem de mim.

Mas quando posso, estou aqui.
Sou inconstante,
Não posso permanecer por muito tempo.
Existem muitas realidades.
Algumas delas me fazem fugir para longe,
Longe de qualquer lugar.

Quando não estou aqui,
Não existo.

Pelotas, 21 de junho de 2004.

sábado, 16 de julho de 2011

Meu pé

I

Meu pé tem um risco de carvão.
A chama está apagada,
Mas a dor não cessa.
Tenho mais tormentos que o caos é capaz de abrigar.

E a poesia pouco inspira.
Com a chama apagada tenho frio,
Corpo inerte,
Olhos cansados,
Pele suja,
Causa náusea minha voz.

Minhas mãos vertem suor.
Calada estou,
Diante da água parada.

II

Meu pé tem um risco de terra.
A chama acesa,
A dor inerte reconforta.
Não tenho mais tormentos.
O caos abriga meu ser e nele existo.

A poesia me mantém viva.
Preciso de movimento, de palavras.
Olhos cansados sim.
Pele suja de lama da luta.

Minha voz está serena.
Minhas mãos descansam.
Estou calada.
Lentamente as águas se movimentam.



2a semana de março e 11 de abril de 2004.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A cura do teu mal

Então viu as paredes do seu corpo
Se desmanchando em um líquido espesso,
Fétido sangue amargo.

Está tudo vermelho.
O sol queima a pálida pele escondida entre mentiras.
Entre demônios dançava fluindo a dor.
Entre a escuridão da noite,
E a amargura da realidade provocada pelo sol.

Você é tão bela,
Fica feia chorando.
E não há beleza na loucura?
Dentro da tua confusão só há o caos.

E ainda assim, a luz insistia em existir.
Para te deixar sobreviver por mais um instante.

Tudo que eu queria era conhecer teus segredos.
E tua pele de animal exalava melancolia.
Quase imperceptível, mas forte desespero.

Então você pensa:
Às vezes não há guia nos meus rumos.
Às vezes choro feito criança,
E não há afago, só castigo.

Então teu maior pesadelo,
São teus próprios pensamentos.
Teu maior castigo está dentro do teu corpo.

Tua loucura é própria,
Assim como todas.
E É dona das tuas emoções.
A cura vem do próprio mal.

13 de outubro de 2001.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Bichos

Somos bichos,
De carne e de pele,
De pensamentos confusos.
Branda loucura.

Somos todos bichos estranhos.
Que gritam e tem fome.
Bichos malditos que inventam o amor.

Somos bichos ferozes.
Que devoram a vida buscando sentido.
E seguem caminhos sempre desconhecidos.

Somos bichos humanos,
Que tem sede de existir,
E sentar na beira da estrada,
À espera de pulsões de vida.

14 de outubro de 2004

Tempo de Sol

Tenho vontade de ouvir a tua voz.
Mas não vou dizê-la, é só minha,
Só a meus versos pertence.

Tenho vontades.
E como as tenho!
São minhas, delas não desisto.

Tenho vontade de rir gargalhadas mudas feitas só de silêncio.
Silêncio e voracidade.

Visto roupas de louco,
De roupagem absurda.
Quando desnuda,
Permaneço distante.

04 de agosto de 2004.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A dança do sentido

Avassala a música cortante.
E prende ao compasso a chama da vida.
E as palavras? Significados inconstantes,
Varrem a dor da tristeza que queima nas cores do sol.

Palavras susurram sentidos desconhecidos!

De pés descalços,
Por sobre a vida.
Em lenta agonia,
Com passos rápidos.
Emerge do silêncio nas palavras ditas.
E dança no sentido nas cores não vistas.

Escrito possivelmente em 2005. Transcrito em Porto Alegre, 11 de julho de 2011. 09:08h

sábado, 9 de julho de 2011

Caos urbano depressivo

As ruas parecem tão desertas,
E as pessoas tão certas.
Sua certeza é como um fio invisível,
Que indestrutível sufoca.

Então loucura é o que parece ser.
Caos inconstante.
Desejo de seguir adiante nas calçadas cinzas,
Frias, da minha imaginação.

O céu escuro é quase sóbrio.
As pessoas: insanas, insensatas,
Insensíveis aos segundos de vida que passam.

Mas o fim de tanta incerteza,
Talvez em um pequeno passo esteja.

Pelotas, janeiro de 2002.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A hora imprecisa do mau tempo

Talvez eu precise de um temporal para acalmar!
Ou de um simples vendaval para ordenar os pensamentos.

Talvez eu precise de chuva pra começar tudo de novo.
E, talvez, seja tudo igual.
Muda o cenário, os atores, mas a encenação é a mesma.
É uma só vida em diferentes atos.

Talvez eu só precise de uns minutos dentro de mim.
Pra me encontrar, ou me perder, achar o caminho.

Talvez eu precise de um tempo,
Pra saber o que é certo.
Mas nem tudo está errado.
São apenas dúvidas.

Talvez eu precise saber! E quem sabe?

Talvez um dia eu possa voar bem alto,
E descobrir de onde vem a chuva,
E para onde foge minha alma quando estou com medo.

28/10/2000

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Eu

[...]
Eu sou apenas um ser que luta,
E que deseja viver!
[...]

1997

Da linha do tempo à realidade

Você espera que eu diga apenas uma palavra sensata.
Pensa que dentro ecoa a razão.
Quer que eu durma somente uma noite,
Acorde com o sol,
Volte à realidade descendo da árvore dos momentos.

Você espera que nunca haja tempo.
Mas a noite é meu refúgio.
Abriga minhas confissões, e tem estrelas também.
Então meu vício é a loucura?
Isso que você chama loucura sem ver o mundo real das pequenas flores negras.

O que é real?
A beleza podre? A piedade dos anjos?
E como esperar mais que poeira azulada?
Quem é você? Onde está agora?
Esperando o sol? Tendo bons sonhos?
Caindo no chão? No barro vermelho?

Você espera que a vida seja real.
E espera atrás da muralha de pedra cinza.
Com olhos vendados,
Segue caminhos traçados,
Cobertos de flores amarelas envenenadas.

10/12/2001.

Canto ao Desencanto

O canto é livre,
Espanta da alma a inércia.
Canta!
Te expande e vive.

Por vezes exala dor,
Embriaguez.

Tanto tempo.
Tempo contínuo.
Em passos calados rodeando o fogo.

Vago pelos cantos,
E canto em pleno desencanto.

2003