sexta-feira, 29 de julho de 2011

De mim

Que graça tem
A minha estupidez,
Minha lucidez vulgar?

Me sinto distante,
Longe estou do espelho.
Que calma permanece agora.
Quem fala por mim?

Será que ainda estou aqui?
Mesmo calada?
Calada sim,
Entoando cânticos silenciosos,
Dizendo palavras apenas para ocupar espaço.

Queria viver sempre aqui.
Estar o tempo todo.
Permanecer constante.

Mas a lucidez me afasta.
Queria poder estar contigo o tempo todo.
Ser. Existir por mais de algumas horas.

Em curtos espaços de tempo fujo do meu lugar.
Fico presa em mim,
Sem criar nenhuma realidade,
Como se não existisse.

E se existo,
Como permanecer?

Preciso fugir por estas linhas.
Escapar nas palavras,
Mesmo que poucas palavras.
Palavras vazias às vezes,
Mas cheias de mim.

Me esvaio pelas frestas da porta de madeira que não me prende,
Me aparta às vezes.
Escapo pelos cantos das páginas em branco.
Corro rapidamente pelas linhas vazias.

E o que sou, afinal?
Apenas traços dispersos,
Realidades fragmentadas.
E onde existo?
Onde realmente existo?
Nestas linhas ou palavras, ou só na imaginação?

Sei, sou incoerênte.
Esvai-se também minha quietude.
Quero gritar!
Mesmo que meus gritos nada signifiquem.

Onde se ouve minha voz?
Quando venho e quando vou?

Não deixo ratro, nem lembrança.
Apenas palavras que dizem de mim.

Mas quando posso, estou aqui.
Sou inconstante,
Não posso permanecer por muito tempo.
Existem muitas realidades.
Algumas delas me fazem fugir para longe,
Longe de qualquer lugar.

Quando não estou aqui,
Não existo.

Pelotas, 21 de junho de 2004.