Criatura que permanece observando o dia
E caminha
Com fendas produzidas pela terra
Criatura humana de pés descalços
Inchados da areia
O dedo do pé esquerdo sangrando
Pés sujos de lama e vento
E canta a dentro em cada canto.
Cria criatura
De mente branda
De louco
Cria tua loucura
Criatura que caminha na areia
Sempre de pés descalços
Descaso é o que tens
Descaso da razão
Caminha criatura
Cria
Não tortura
Caminha distante
De olhos largos no caminho
Canta breve criatura
Cria teu ser
Tu que és deus, tu que és vento, tu que és terra
Da terra te desfaz, e te faz sucessivamente
E constante cria a criatura
Criando realidades
Refletindo no espelho
Pingando de água do mar
Criatura pede canto escuro
E conta contos noite à dentro
Despede a luz do sol
Despede a realidade
É de terra e é de vento
Escrito na cidade de Pelotas por volta do ano 2000.