sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Das cinzas do tempo

A cidade se desfaz,
Se faz do caos!

A cidade não compõe,
Nem mesmo músicas bêbadas.

A cidade se esconde,
Atrás dos olhos do menino.

A cidade se refaz,
Da lama e do vento!

Pelos cantos,
A cidade entoa cantos.

Pelos cantos e frestas se esconde a dor.
A cidade fere!
E desperta.
Em prantos enterra a dor,
E pede os panos,
Das caixas multicoloridas.

Sem data, provavelmente também em 2004.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Previdência

Minha decadência,
Extrapola os limites da sobriedade,
E vaga nos vestígios da insanidade de ante-ontem.

Pesa o corpo gelado da completa incompreensão,
Pena pelo deserto em busca da solidão.

Minha impaciência,
Vil inquietude,
Extrapola os limites do dizível,
E põe ponto final nas tentativas de equilíbrio.

Desassossego e descanso andam juntos,
Embalados pelo incerteza.

2004

Amor

Teu delírio,
Tua cor exala vida.
Tua constante confusão,
Esfacela toda possível lucidez.

Descontrole,
Disparate,
Amor insensível à dor,
Consola minhas madrugadas vazias.

Minhas palavras inacabadas,
Incompreendidas,
Se prendem ao nada.

Se toda essa insanidade é extrema?
Não sei.

De onde vens venta o sol.
E tua luz se esconde onde venta a solidão.


Pelotas, 2004.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Pálida dor

Tarde demais,
Tão cinza!
Sombras por todos os lados,
Silêncio vasto,
Vaga escuridão.

Sem poesia, nem encanto tudo é tão real.

Não há calor humano,
Nem lágrimas!
Não há sentimento algum no tempo,
Que agora sinto presente.

Não há direção contrária,
Nem os sentidos podem transpor.
Apenas existe a dor,
De um sentido ausente.

Sons de vida sem consciência,
Em um tempo de lástimas amargas, opacas.

Insensíveis nós,
Quase imperceptíveis causas.

Pelotas 15 de abril de 2001.

O grito

Hoje,
Procuro em silêncio a sombra da paz de algum dia distante.
Procuro nas linhas vagas do meu rosto um pouco de equilíbrio.
Busco fugir da imensidão dos segundos,
E das horas frias de um calor tórrido,
Do sol que queima escondido entre as nuvens de chuva,
Que não chove,
Mas pinga aos poucos dentro de mim as sensações de dor que procuro não sentir.

Às vezes quero explicar tudo!
Às vezes me despir diante da vida,
E gritar de braços abertos que não tenho medo!

Outras vezes,
Nâo quero mais chorar,
Nem descobrir o motivo da tristeza.

Hoje busco consciência,
Nunca tive, sempre busquei.
Busco perdão sem saber o motivo!

Vou gritar bem alto,
Mentir que tenho coragem!
Fingir que sou forte,
E que tenho razão.

Pelotas, fevereiro de 2001.

Aos injustos

Eles gritam!
Eu olho à meu redor,
Para dentro de mim,
Só vejo desalento.

A multidão chora,
À custa do seu próprio mal?
Poucos são inocentes.
Talvez nem haja inocência,
Talvez seja apenas a ocasião.
Muitos sofrem!

Vejo os sonhos rondando a multidão.
Também sonho, sou parte dela.
Mas temos pesadelos,
Somos silenciosos,
A maldade sussurra.

Julgam-se pecados,
Há penitência,
Perdão.
Pura hipocrisia!

Somos juizes de nós mesmos.
Porém, não justos.
Somos humanos, sem significar humanidade.

Como chamar humano o que mata?
Como chamar homem aquele que expõe seus iguais ao inferno?

Eles continuam gritando!
E continuarão.

Pelotas, 13 de dezembro de 2000.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Drama moderno

Não é drama a minha dor de existir!
É somente o cansaço de um coração aflito que clama por justiça e liberdade.
É o desatino de uma mente farta de lutar,
Com palavras vazias e repetidas inúmeras vezes,
Já ditas por outras tantas,
Em uma sociedade machista e hipócrita.
Sou apenas uma pessoa cansada de tantos discursos vazios,
Inclusive dos meus próprios.
Estou cansada de tanta solidão e falta de independência,
Para mim, para ti, e para a imensa maioria da humanidade.

sábado, 5 de novembro de 2011

A política

A minha expressão política,
É a expressão do desespero!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A loucura real

Então, um dia eu enlouqueci!
E fiz tudo que me deu vontade.
Gritei bem alto pra todo mundo ouvir muitas coisas que penso ser verdade.

Algumas das coisas que disse são irrealidade, delírios de uma mente insana que se cansou da sociedade.
Mas muitas delas, infelizmente, fazem parte da mais crua realidade.

É muito difícil existir nesse mundo.
Poucos respeitam as diferenças,
E muitos querem sempre ser melhor que os outros,
Não se dão conta que somos todos humanos e que a vida aqui na terra é muito curta.
Não se dão conta que as diferenças são construídas pela cultura.
Todos nascemos iguais,
O que nos torna diferentes uns dos outros é a vida em sociedade.

Isso ainda será editado, mas começou a ser escrito de 14 de outubro de 2011.

Imanência




Antes que seja tarde,
Mesmo à meia luz,
Te vejo plena.

Permanece constante,
Mesmo entre perdidos desalentos.
Sóbria e ébria,
Pode tendo vontade!

É querer constante.
Encarna solo e tempo,
Mesmo parecendo distante.

Tem medo e segue em frente. 
Mesmo com tropeços,
Não tem lamentos lamentos,
Encarna querer.


Escrito há décadas no Papuera, em Pelotas, num papelzinho de divulgação, quando muito pouca gente frequentava o bar.
Fotografia de 15 de junho de 2023.

 

 

domingo, 11 de setembro de 2011

Humana

Era ela!
Ali,
Numa esquina qualquer,
Chorando de frio,
Embriagada de medo.

Era ela!
A alma humana diante da vida!

Conflitos não a torturavam [Não tinha consciência!?].
Só a dor!!!
A dor dos conflitos a atingia.
Alma de muitos pecados?
Não, aqui eles não existem.

Não desejava conquistas!
Tinha anseios,
Mas apenas a vida queria!

Força igual não havia,
Mesmo em lutas injustas diante do caos!

Futuro não há. Passado? Não!
Somos todos iguais.
Todos os que torturam e os que são torturados.

A paz é utopia.
Guerra não é solução para nós.
Somos todos iguais,
Mas ela chora,
E não é ficção!

É só um pesadelo.
Mas o sono é profundo.
Acordar? Impossível?
Amplamente necessário.

Cláudia Tomaschewski

Agosto de 2000 - setembro de 2011.

sábado, 10 de setembro de 2011

Ócio

É que...
Às vezes me esqueço que a leitura é ócio,
E que a escrita é tentativa de movimento!

E me esqueço de quase tudo!
E bem sei que este esquecimento
Não é a melhor das virtudes para alguém que pretende escrever sobre o passado.

E Que merda!
Ainda que esqueça de muito, me lembro do vazio que é a escrita.

-Vazio?
-Se o texto fala?
Pelo menos textos bem escritos são possíveis de ser lidos,
Mesmo que não exista realidade possível.
E não há realidade possível!

Sem data. Num dos tantos momentos em que estava travada para escrever em 2006.

Espelhos

Fumei algumas dezenas de cigarros pensando em que seria o sentir.
E devo ficar pensando mais umas tantas horas sem sono!
Horas inúteis, porque vazias!
Remetem a tantos outros silêncios...

E vaga a lucidez em busca de palavras!
Reduz-se ao silêncio das horas inquietas onde perâmbula o não-ser,
Gira na realidade,
Retoma a frenética dança do tempo,
Baila no espaço,
Onde encontra novamente o vazio!

22 de outubro de 2004.

A filha do vento

Cala-te!
Pois sois filha do vento e a ele temes.
Temes a dor?
Temes a ti?
Como podes negar teus sentidos, se ao menos imagina que os tem?

Cala-te!
Não quero mais palavras fúteis,
Certezas incertas,
Verdades erradas!

O erro!
Que erro?
Quem sois para julgar?
Não julgas a ti mesma!

Pensas...
Te perdes!
Achas certezas que te inebriam de uma falsa ventura.

- Quem sois, afinal?
- Não te disse quem sou?
Sou tua sombra, minha sombra,
Teu passo, meu passeio,
E sei por onde passas,
Onde vagas procurando.

A procura nunca cessa.
Tenho-te aqui, viva, mas inerte...
Não sabes morrer em mim,
Nem sabes.

Sem data.

domingo, 4 de setembro de 2011

Vagamundo

Vagabunda é aquela que vaga pelo mundo,
Procurando...
E a busca nunca cessa,
É a Vida!

Porto Alegre, Ago-set 2011.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Amigo

Amanhã será nosso recomeço.
Nossa mais sórdida derrota,
Batalha perdida,
Luta talvez em vão.

Tua causa tão nobre será tua perdição,
Tentação quase cruel.
Esquecer?
Talvez deixar tudo para trás.

O grito preso na garganta te esmaga,
Parece não deixar o ar passar,
Quer explodir pelos ares.

Eu vejo teus olhos aflitos,
Perdidos na multidão.
Teu sorriso é tão peculiar,
E tua melancolia causa espanto.

Somente a fuga!
Pra onde?
Sempre haverá água para remover o sangue.
E o teu corre, calma, lentamente.
E antes que te falte a vida,
O chão já está limpo.
De nada valeu teu sangue.
E tua alma parece se despedaçar no ar.

Parece não ter restado nada.
E tua queda parece ser infinita.
Passastes do inferno,
Nunca chegarás ao céu.
Na consciência não há descanso.

Há rumores de novos tempos,
Há rumores de velhas chagas,
E dos mesmos tormentos.

Eu ainda vejo.
Eternamente verei teus olhos aflitos,
Despercebidos na multidão,
Perdidos,
E quase únicos.

18 de outubro de 2001.

Quatro horas

São quatro horas da tarde,
E meu relógio parou.
As folhas ainda estão verdes,
Pois meu relógio parou.

São quatro horas no tempo e espaço.
Quatro horas de solidão,
Quatro de imensidão.

São apenas quatro horas,
O dia ainda é longo.

E o que são quatro horas diante do infinito.
Nesse infinito o tempo passa.
E não são quatro horas fora do meu tempo.
Meu relógio parou.

Quatro horas e fujo do tempo.
Quatro horas de medo, vazio.
Quatro horas olhando para uma parede branca.
E novamente,
Quatro horas da tarde.

28 de novembro de 2001.

A cerca

As paredes vem e vão.
Paredes cinzas, esburacadas,
Por onde passa o sol,
Paredes de arame farpado.

Um sorriso melancólico paira no ar,
Atrás da porteira.
As linhas ficam ofuscas,
Faltam palavras, soam confusas.
Olhares revelam medo.

Angustiante parede de tijolos velhos,
De barro vermelho,
Que caem aos pedaços,
Enquanto sangra.

E o arame farpado, fechado,
Que cerca a mais bela criatura,
Enferruja nas mãos,
Mas não morre.

E farpado é também seu corpo,
Seu estúpido corpo.
E seus olhos farpados ferem outros olhos farpados,
Estúpidos,
Escondidos.

Atrás da porteira há um açude,
Cheio de arame farpado, mergulhe!

Atrás da porteira,
Parede,
Arame farpado.

07 de maio de 2002.

Ex-caos

Não há mais poesia!
Então há paz em ti?
Não mais embriaguez,
A realidade parece constante,
Como tuas palavras, certas, exatas.

A realidade no momento certo.
Sem motivo, sem sentido.
Violando os sentidos.
Transgredindo a lei púrpura.

Não há mais alucinações.
Nem motivo para o caos.

Abrigo silêncio profundo,
e o mais completo caos.
Abrigo os ares, tenho asas e bebo o vento.
Não sou realidade,
Nem exalo compreensão.

Não escrevo mais versos,
Nem acredito em você.
Não tenho mais pesadelos,
Nem sonhos.

Fica apagado, remoto.
Apenas a sombra de toda a febre de um dia passado.

E Aqui estão todas as palavras!
E você, sabe sentir?
Sabe existir longe do caos?
Mas não tem sentido,
Você não conheçe a dor.

Teu corpo suspenso,
Numa viagem eterna.
E é real?
Naquela noite,
Apenas estranha,
A última porta na parece cinza escuro.

Março de 2002.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Insano

As vezes parece tão belo,
Mas se torna inescrupuloso quando a loucura se aproxima.
Algumas vezes é tão sereno e radiante,
Mas diante de algumas lágrimas torna-se mórbido.

Fragmento de um compasso acelerado,
Contínuos momentos,
Movimentos insinuantes,
Trapaças.

Sementes férteis em solo tórrido não florecem.
Nem as flores duram muito,
Mas exalam a escuridão.

Tardio despertar,
Sentidos apagados,
Em um sonho tão real quanto ela.

Alguns tentam dominar outros tem medo,
Mas ele é mortal,
Ilude com suas nuvens claras, raras de um dia de sol.
Mas é a noite que traz a dor.

Fim de 1999.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Monólogo

Conheço teus caminhos,
E não deixas rastro.
-De onde vens?
Estás tão perto, com olhos fortuitos,
Mas de espiríto presente.
-E sabes quem procuras?
-O que queres conhecer?
Tens medo, eu sei.
Mas te avisei do perigo,
Naquelas manhas frias
Eu te disse que não teria fim.
-E queres sempre um novo começo.
Pois se houvesse constância,
pensarias que já não há razão,
Nenhuma busca mais.
Mas muitas vezes já te disse que a busca não tem fim.
É o que nos move e o que nos faz humanos.
Calo-me agora, minha voz é tua voz.

16 de janeiro de 2004.
11 de agosto de 2011.

O amor e os dias

Quero fugir,
Percorrer as cinzas do teu corpo.
Talvez apenas poucos passos,
De tristeza, umas horas, pouco caos.

Quero correr na grama,
Sentindo somente o gosto das sementes mais férteis.

Quero alguns dias longe do teu corpo,
Do teu cheiro, teus afagos.
Dias de sono inconstante,
E persistente melancolia.

Quero o amor mais doce,
Como nos primeiros dias.
Dias longos, intensos,
Dias loucos, da mais perfeita insanidade.

06 de julho de 2002.

Insensatez

Abraço o mundo insano que te abarca.
Tenho a ligeira impressão do gosto da lágrima.

Só escrevo poesia quando vejo poesia,
Quando choro escrevo lamento.

E que poesia restou (ou nunca existiu?),
Dos meus dias de vã melancolia?

Meu corpo só quer a cama,
Nem música mais quer dançar.

E o vento na rua não convida à vida.
Nem o desastroso corpo que cambaleia pelos cantos temendo um rompante de insensatez!

2004.

A dona da chuva

Trago mais que chuva,
Para alcançar teus sentidos.
Tenho mais sentidos,
que teus sonhos vagos.
Tenho mais sonhos,
Que nossa mente pode alcançar.

Ao alcance do vento.
Em poder do tempo!
Caminhando nas estradas marrons
Da tua consciência!
É irreverente teu semblante,
Louco, inocente.

Cálida tempestade!
Mais que um fragmento
Da tua inquietação.
Mais que um vasto delírio
Dos teus pensamentos.

12 de março de 2002.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Palco vazio

Grande palco vazio.
Belas luzes apagadas,
Apenas esperando o tempo passar.

Então tomo o palco,
Sinto-me viva!
Com palavras me sobressalto,
E minha essência flui.

São as pedras azuis-violeta da tua imaginação!

Palco vazio,
Por minha indeterminação.

Minhas forças obscuras não emergem das sombras.
E a expressão do meu rosto talvez seja outra.

Ah! Só o vento com sua beleza quase terna busca alcançar meus pensamentos.
E ainda, palco vazio!

14 de novembro de 2001.

Teus dias

Fale-me dos teus dias.
Da maré clama,
E da tua revolta.

Fale-me dos teus tempestuosos dias.
Dos teus dias calmos.
Tão simples,
E passados dias.

Fale-me das tardes dos teus dias.
E das tuas noites insanas!

Fale-me da inquietação do teu tempo.
Dos dias de chuva,
Da solidão!

Fale-me da distância.
Do remoto vislumbre dos dias de outono.
Do vento e dos dias mornos.

Fale-me da coragem.
Dos dias de tempestade.
Do cheiro da terra molhada pela chuva.

Fale-me dos dias de consciência.
De vertigem!
Ou mesmo de derrota.

Fale-me dos dias atônitos, cruéis e puros.
Alegres,
Ou apenas dias da tua existência,
Dentro das horas perdidas nos dias.

Fale-me dos dias.
Da tua vil virtude!
E desequilibrio sólido.

Fale-me de todos os dias.
Insanos ou não.
E de todas as noites inteiras,
vendo o tempo passar!

Fale-me dos sonhos que se escondem nos teus dias.
E das trevas ocasionais da tua realidade!

Fale-me da brisa que embala teus ternos dias,
De sol quente,
E da busca do frescor na sombra duma árvore.

Fale-me da tua luta,
Guerra contra o céu.
Da tua vontade,
E irritante persistência.

Fale-me daquele momento,
Da tua alma transparente,
Pensamentos quase apagados,
E corpo quente!

[...]

Fale-me do teu último dia.
Da sombra que se estendia por sobre teu corpo.
Da última sensação,
Do último momento.

10 de novembro de 2001.

O vento sopra em todas as direções

O vento sopra em todas as direções.
O sentido vaga em busca da memória.
O sonho busca em todas as dimensões,
A solução dos conflitos.

O vento sopra em todas as direções.
Vaga no infinito em busca de um amor,
Perdido n'alguma esquina.
A luz busca obstinação entre olhos aflitos.

O vento sopra em todas as direções.
Nuvens claras formam redemoinhos transparentes.
A chuva busca as luzes reflexas no horizonte,
Naufraga, se perde na terra.

O vento sopra em todas as direções.
Vaga na memória!
Nas palavras,
Que surgem da tempestade.

1998.

Não há nada

A vida parece tão insana as vezes.
Louca por si própria,
Própria por si mesma.
Tão descoordenada e intensa,
Perdida em uma rotina.
E um simples por do sol no inverno.

Na solidão da lembrança!
Presa dentro de algumas palavras mais loucas ainda.

Sem sentido, contínua, infinita e vazia!
Tão sólida e frágil.
Tento segui-la com meus passos lentos e impróprios.

Dizer o quê?
Não há nada a dizer.

Palavras são eternas e vagam com o tempo.
São esquecidas!
O papel vira cinza,
Tudo vira pó!

E o que fica?
Não fica nada.

O nada é imenso disperso no infinito.
É o que resta, e o que fica depois da chuva.
É o que faz a tempestade turbilhar dentro de mim.

E quando te encontrar, o que vou dizer?
Talvez eu lembre de perguntar se um dia fez sol diante dos teus olhos.
Então direi que a chuva já passou.
E só há o som dos teus passos seguindo em frente.
E o silêncio em torno de mim.

14 de outubro de 1999.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Os outros

Tenho entre meus lábios a carne ainda fresca.
Meu corpo ou a morte?

Tenho a mão esquálida,
Sangue nas veias e rubor no rosto.

Tenho vontade,
Sou querer.

Tenho febre,
E ânsia,
E desespero.

Tenho sentidos inconstantes,
E pulsa,
Gelada ou quente.

Tenho a voz cravejada,
Não sou pedra, nem de gesso.
Faltam palavras e cores.
Vem á tona sentidos adormecidos.

Tenho outros seres.
Sou todos eles,
Nenhum.

Num lugar distante não há ser,
Nem tempo,
Nem espaço.

As vezes abrigo o caos.
Não há caos.

Tenho rostos alados,
Quereres infindos,
Perturbações constantes.

05 de junho de 2004.

O "eu" poeta

Queria te trazer um pouco de poesia.
Ser poeta, anti-profeta do tempo.
Queria te trazer um pouco do amargo da minha língua,
Da loucura das frases soltas.
Mas tua razão se esquiva pelos cantos.

Queria te trazer a anti-sabedoria,
E toda a confusão dos meus conceitos.
Fugir da lógica e abraçar a não-verdade.

Mas que poeta sou?
Que falso poeta! Tão reto nas linhas.
Seguindo os olhos fortuitos que desviam a dúvida.

Queria te trazer o medo,
O mais completo caos.
Que por completo não é caos, mas linearidade.

Queria te trazer a cegueira do brilho extremo.
A imperfeição das palavras.
Queria te trazer apenas o momento,
O devaneio dos segundos.

Mas duvido!
E duvido de tudo.
Do alcance,
Do significado.

Não trago mais que inconstância.
Não sou,
Não permaneço.
Sou aparência e me desfaço.

28 de março de 2004, na porta da frente da casa lá fora.

Realidades




Está um bom dia hoje.
Posso agora dizer que estou sóbria.
A realidade parece mais visível.

Longe da melancolia,
Afasto uns poucos passos.

Quero uma sobriedade sólida,
Não mais o desatino constante.

Levo memórias,
Pedaços de mim,
Fragmentos que lembram dias ensolarados.

Guardo em mim alguns momentos dispersos,
E essa estranha felicidade que me consome até os ossos.

Vejo o movimento da água na parede de tijolos vermelhos.
Abstraio a realidade por uma nova realidade,
Plena de sentido,
Intenso sentido,
Como os sons que ouço agora.

Pelo vento vem vagando a memória.
Os mesmos ventos que trazem o crepúsculo,
Trazem o eu carregado em seus braços.

24 de julho de 2004, no antigo frigorífico Anglo.
Fotografia da lua nascente em 01 de agosto de 2023.

Mais uma vez o tempo

Tendo tempo pude perceber sinais de incompreensão.
Sinais de delírio,
Formas nas paredes.
Vi palavras escritas em velhos papéis.
Tive desassossego,
Medo da melancolia de um dia vazio.

Passam segundos, minutos, horas...
E meu relógio não pára.

À minha frente pensamentos inquietos.
E uma folha de papel rasgado.
O cheiro do pó que se acumula.
E não há humanidade,
Nem desapego.

A sala está vazia!
Tinha tantos planos.
Alguns ainda tenho,
Pouco perdidos, confusos.

Escrevo a anti-poesia.
Relatos da realidade inventada,
Pesada como algodão molhado,
Cheio de pó do tempo.

05 de julho de 2004.

As vozes do tempo


 

 

Da janela do meu quarto eu vejo passar a multidão.
Eu sou a janela,
E sou a multidão.
Mas não o quarto vazio.

Com um cigarro ainda aceso espero passar o tempo.
Espero amanhecer e desvaneço.

Com pouca calma,
Sentada nas dunas de vento,
Canto as vozes do tempo.

S/D na máquina de escrever.

Fotografia de 21 de novembro de 2021.

Eis aqui

A cada passo,
Acelera o descompasso.
Mais palavras são ditas,
No ritmo das mentiras onde se escreve a poesia.
Avassala o tempo o desejo incontido de amar mais que a morte.
E quando a lucidez retorna, o que será afinal?

Sofro de demasiada inquietação,
Persistente lucidez,
E ligeira aversão à realidade.


Transcorre o tempo,
E estou aqui.
Percorrem por mim mágoas que o vento não leva.
Permanece uma leve inquietação
Quando passo pelos prantos mudos da incerteza
Que distorcem a direção possível.


Velhos versos
Que calo aqui
Trafegam submersos
No abrigo da certeza.


S/D, na máquina de escrever.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Existência

Silêncio da razão agita meus pensamentos. Enigma do olhar, sublime revela os mistérios da existência. Assim como o perfume de certas flores muito belas, se desmancha em lágrimas de um néctar puro e suave, se espalha pelas pétalas, lentamente toca o chão.

O sol da manhã e o canto dos pássaros deixa suave a brisa que leva as pétalas das flores. O mistério paira, leva à loucura. A ilusão toma conta e faz a alma voar pelo espaço, sem tempo nem direção.

O corpo eleva-se às mais profundas sensações. A luz enche o espaço, se torna incandescente. Tudo fica em chamas. A morte é o fim.

Pelotas, 12 de abril de 1997.

Entre as paredes do meu quarto

O vazio está entre quatro paredes.
Nelas prendem-se sonhos e ilusões.
Nas paredes do meu quarto eu vejo você,
Em todas as paredes.

Então olho em seus olhos e não vejo nada.
Nada além do infinito.
Nada! Mas eles me dizem muito.
Dizem que as paredes são minha prisão,
Que fora delas existe o nada,
Que o abismo me dominará.

Entre essas paredes as formas criam vida,
Me assombram e dão medo.
Formas cabalísticas me seguem,
Dizem que o vazio é o meu lugar.

Das paredes do meu quarto vem as luzes,
Que transpiram a minha escuridão.
O ar que respiro,
Dói ao entrar em meu corpo.

Das paredes do meu quarto ouço vozes,
Vozes cruéis e velozes que atormentam minha escuridão.

Através das paredes o ar sinistro,
O medo!
Sinto gelar-me a alma, regada por minhas lágrimas, um suspiro infernal.
Delírio, dor, pensamentos obscuros.
Vozes, gritos delirantes, paz.

Atráves das paredes do meu quarto eu vejo.
Vejo vidas e soluços lacrimejantes.
Vidas sofridas, mãos vis.
Vejo ondas que vem do mar pra me levar.
Sombras que buscam paz a meu redor.

Através das paredes do meu quarto sinto a felicidade distante,
Querendo subitamente chegar a mim.

Sinto um amor acalentado em palavras fúteis.
Um amor inexistênte,
Torturador e tempestuoso.

Sinto finalmente,
Apenas o vazio entre as paredes do meu quarto.

Pelotas, 1998.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Fotografia

Tenho algumas marcas.
Mais do que as que há em meu rosto.

Hoje não quero ver fotografias.
Ontem à noite vi teu rosto.
Hoje vi o meu no espelho.

Me lembrei de pensar sobre o quanto é possível ver.
Ainda me sinto muito bem quando te vejo sorrir.

Acho que deveria rir mais.
Desprezar menos o silêncio.

Necessito ter fôlego,
Não parar quando há vento.

Mas também é verdade,
Já venta faz muito tempo.

Necessito ter fôlego,
Não parar quando há vento.

Mas também é verdade,
Já venta faz muito tempo.

03 de junho de 2005.

As palavras

Tuas palavras soam distantes.
Como ocas, vazias.

Minhas palavras faltam.
Soam perplexas diante do caos.

[...].

07 de junho de 2004.

Espera

Tenho andado impaciente,
Com a garganta seca,
A voz trêmula.

Tenho tido frio,
Desespero.

Tenho estado aqui, sentada, vendo o tempo passar.

Tenho tido sonhos estranhos,
Visões inaudíveis.

Tenho escutado a tua voz,
E outras vozes,
Milhares de vozes.
Algumas sem som.

Tenho me sentido forte,
Com medo.

Tenho sido muitas para manter constância.

Tenho passado ao lado da consciência e calada continuo.

Enquanto espero ainda fumo meu cigarro!

Pelotas - POA, C. 2004 - c. 2011.

A dor

Na dança do fogo baila atenta!
E chama os ventos.
E canta mágoas.

O fogo não apaga.
Mas luz não é possível.
Só bailar inerte.

A chama clama por descanço, sobriedade.
Mas dança ébria,
Sem pesadelos.

Canta! Que tua voz é chama.
Mas ela esvai-se aos poucos e proclama a dor.

Pelotas, 04/08/2004.

O baile

Corpos em movimento,
Mentes que bailam no sentido inebriante da música.

No compasso dos corpos teus sentidos se inebriam,
Se perdem aos poucos.

Tua pele exala ânsia, torpor.
Teus movimentos dizem, como dizem do teu ser.

Ser que dança, que baila, atormenta!
Ser que sente, que vibra com o som e tem, por fim, os sentidos inertes.

Desatino!
Breve lamento que dança comigo,
Embala meu corpo,
Pede música,
O fim do lamento,
O início do baile que aprisiona o tormento.

Enquanto tem os sentidos dormentes sente o movimento das mãos numa mesa de bar.
A fumaça do cigarro parece dissipar-se rapidamente.

Sem data. Provavelmente 2004.

sábado, 30 de julho de 2011

Sobre a existência do tempo

O tempo se dá a observar.
Pára e se limita ao contar das horas.

O tempo das notas de música.
É onde venta o sentido simples de existir.
Mesmo onde o tempo mostra suas garras e aparta qualquer controle.

Apaga-se o tempo dos relógios.
Os dias afastam-se da racionalidade.
É onde venta outro tempo.
Outra percepção do sentido.
Outro tempo distante das horas.
E até mesmo do tempo do sol.

Do tempo das marés vem o vento,
Que dá sentido à sequência de momentos dispersos.

- Que querias dizer sobre o Tempo?
- Não tenho muito a dizer. Percebo o tempo inconstante.
Perdido em seu próprio sentido, surgido das cinzas, do tempo perdido.
E antes nunca encontrado.
Tempo que não existe é existido!

Na minha máquina de escrever. c. 2004/5

Basta!

Que chova...
Que caiam pedaços de mim.
Que caibam em passos mais lentos,
Nos rastros do vento.

Que nas calcadas de uma rua qualquer não haja apenas pedras.
Que a gente toda se misture em passos atentos.

Chega! diz o vento,
Já não percorre as mesmas ruas.

Basta! diz o tempo.
Um pouco de mim sempre fica na calçada vazia.

Sem data. Talvez 2004.

O trem e os dias I

Longo dia.
Espírito inexistênte,
Ou longe demais.

Língua veloz,
Um só relâmpago!

E nós, ainda aqui,
Esperando.
Bebendo da fonte esquecida.
A voz, quase não ouvida.

Mas quem ainda espera?
Além de nós,
Quase todos esperam,
De tanto gritar não tem mais voz.

Quase perdidos,
Ou esquecidos.
Semblante sereno da pálida dor.

Pelotas, Carnaval de 2004.

O trem e os dias II

Que queremos por fim?
Não tem som nossa voz,
Nem sentido nossas palavras.

Nós estamos aqui,
Numa mesa de bar
E só restou um vaso na janela,
E a quietude.

Palavras não exalam...
Paraíso ou cinamomo?
Palavras impondo ao que se cala.

E a menina que corre na rua de pés descalços...
Descalças ideias as minhas,
Vagando entre a mesa do bar e a sarjeta.

Num bar de esquina, 10 de fevereiro de 2004.

O trem e os dias III

Sei que dirás: estou aqui.
E quem irá perceber que o trem está partindo?

Mesmo sem levar passageiros,
Só carga inerte,
Sentimentos passados,
Segue pelos trilhos com a frieza que lhe é peculiar.

E quem ainda quer gritar?
Atravessar os vagões do trem,
Ouvir o apito do trem,
Seguindo a vã melancolia do trem que parte.

E sigo na estação,
Como se partisse.
O corpo que fica abandona os trilhos.

Em casa, na rua Albuquerque de Barros em Pelotas.

O trem e os dias IV

Perto dos trilhos do trem.
A estação inundada de água doce.
Eu ainda inerte.

É o mesmo céu,
Num azul mais profundo.
E o que venho pedir às palavras tua voz confunde.

Mas fica sempre a certeza do maciço ferro dos trilhos.
E nenhum sentimento! Nem a vida toda, apaga a tua voz.

E o mesmo tempo,
Que apodrece a madeira,
Que esvai a vida,
Não apaga tua voz.

Pelotas. No "quadrado" à tarde.

Onde passa o tempo

Quando começo a ficar só,
Tendo sentido no vazio,
Busco um pouco de mim.

Próximo segundo afoito só diz da incerteza.
De que será feito o próximo tempo?

O medo passa rente!
Fina lâmina que destrói concreto.

Nem só de concretude vivo,
Tão pouco me sustento da solidão.
E quando retorno... É onde passa o tempo.

Escrito possivelmente em 2004.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A dança

Panos coloridos ao fundo.
E eu tentando deter o tempo.
Ou mesmo fugir-lhe.
Que me persegue em horas inertes.
Cambaleia atrás de mim.
Tem estado aqui nos últimos dias.
Tem invadido meus sonhos.
Até dançou comigo certa vez.
Percorre minhas linhas como se fossem suas.

E que desejo eu além do corpo?
Da beleza da expressão?
E da poesia nos passos da dança?

E que ser sou?
Que danço sem corpo.
Pairo em torno das palavras.
E permaneço,
Em pequeno êxtase e morte repentina.

Pelotas, início de abril de 2004.

De mim

Que graça tem
A minha estupidez,
Minha lucidez vulgar?

Me sinto distante,
Longe estou do espelho.
Que calma permanece agora.
Quem fala por mim?

Será que ainda estou aqui?
Mesmo calada?
Calada sim,
Entoando cânticos silenciosos,
Dizendo palavras apenas para ocupar espaço.

Queria viver sempre aqui.
Estar o tempo todo.
Permanecer constante.

Mas a lucidez me afasta.
Queria poder estar contigo o tempo todo.
Ser. Existir por mais de algumas horas.

Em curtos espaços de tempo fujo do meu lugar.
Fico presa em mim,
Sem criar nenhuma realidade,
Como se não existisse.

E se existo,
Como permanecer?

Preciso fugir por estas linhas.
Escapar nas palavras,
Mesmo que poucas palavras.
Palavras vazias às vezes,
Mas cheias de mim.

Me esvaio pelas frestas da porta de madeira que não me prende,
Me aparta às vezes.
Escapo pelos cantos das páginas em branco.
Corro rapidamente pelas linhas vazias.

E o que sou, afinal?
Apenas traços dispersos,
Realidades fragmentadas.
E onde existo?
Onde realmente existo?
Nestas linhas ou palavras, ou só na imaginação?

Sei, sou incoerênte.
Esvai-se também minha quietude.
Quero gritar!
Mesmo que meus gritos nada signifiquem.

Onde se ouve minha voz?
Quando venho e quando vou?

Não deixo ratro, nem lembrança.
Apenas palavras que dizem de mim.

Mas quando posso, estou aqui.
Sou inconstante,
Não posso permanecer por muito tempo.
Existem muitas realidades.
Algumas delas me fazem fugir para longe,
Longe de qualquer lugar.

Quando não estou aqui,
Não existo.

Pelotas, 21 de junho de 2004.

sábado, 16 de julho de 2011

Meu pé

I

Meu pé tem um risco de carvão.
A chama está apagada,
Mas a dor não cessa.
Tenho mais tormentos que o caos é capaz de abrigar.

E a poesia pouco inspira.
Com a chama apagada tenho frio,
Corpo inerte,
Olhos cansados,
Pele suja,
Causa náusea minha voz.

Minhas mãos vertem suor.
Calada estou,
Diante da água parada.

II

Meu pé tem um risco de terra.
A chama acesa,
A dor inerte reconforta.
Não tenho mais tormentos.
O caos abriga meu ser e nele existo.

A poesia me mantém viva.
Preciso de movimento, de palavras.
Olhos cansados sim.
Pele suja de lama da luta.

Minha voz está serena.
Minhas mãos descansam.
Estou calada.
Lentamente as águas se movimentam.



2a semana de março e 11 de abril de 2004.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A cura do teu mal

Então viu as paredes do seu corpo
Se desmanchando em um líquido espesso,
Fétido sangue amargo.

Está tudo vermelho.
O sol queima a pálida pele escondida entre mentiras.
Entre demônios dançava fluindo a dor.
Entre a escuridão da noite,
E a amargura da realidade provocada pelo sol.

Você é tão bela,
Fica feia chorando.
E não há beleza na loucura?
Dentro da tua confusão só há o caos.

E ainda assim, a luz insistia em existir.
Para te deixar sobreviver por mais um instante.

Tudo que eu queria era conhecer teus segredos.
E tua pele de animal exalava melancolia.
Quase imperceptível, mas forte desespero.

Então você pensa:
Às vezes não há guia nos meus rumos.
Às vezes choro feito criança,
E não há afago, só castigo.

Então teu maior pesadelo,
São teus próprios pensamentos.
Teu maior castigo está dentro do teu corpo.

Tua loucura é própria,
Assim como todas.
E É dona das tuas emoções.
A cura vem do próprio mal.

13 de outubro de 2001.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Bichos

Somos bichos,
De carne e de pele,
De pensamentos confusos.
Branda loucura.

Somos todos bichos estranhos.
Que gritam e tem fome.
Bichos malditos que inventam o amor.

Somos bichos ferozes.
Que devoram a vida buscando sentido.
E seguem caminhos sempre desconhecidos.

Somos bichos humanos,
Que tem sede de existir,
E sentar na beira da estrada,
À espera de pulsões de vida.

14 de outubro de 2004

Tempo de Sol

Tenho vontade de ouvir a tua voz.
Mas não vou dizê-la, é só minha,
Só a meus versos pertence.

Tenho vontades.
E como as tenho!
São minhas, delas não desisto.

Tenho vontade de rir gargalhadas mudas feitas só de silêncio.
Silêncio e voracidade.

Visto roupas de louco,
De roupagem absurda.
Quando desnuda,
Permaneço distante.

04 de agosto de 2004.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A dança do sentido

Avassala a música cortante.
E prende ao compasso a chama da vida.
E as palavras? Significados inconstantes,
Varrem a dor da tristeza que queima nas cores do sol.

Palavras susurram sentidos desconhecidos!

De pés descalços,
Por sobre a vida.
Em lenta agonia,
Com passos rápidos.
Emerge do silêncio nas palavras ditas.
E dança no sentido nas cores não vistas.

Escrito possivelmente em 2005. Transcrito em Porto Alegre, 11 de julho de 2011. 09:08h

sábado, 9 de julho de 2011

Caos urbano depressivo

As ruas parecem tão desertas,
E as pessoas tão certas.
Sua certeza é como um fio invisível,
Que indestrutível sufoca.

Então loucura é o que parece ser.
Caos inconstante.
Desejo de seguir adiante nas calçadas cinzas,
Frias, da minha imaginação.

O céu escuro é quase sóbrio.
As pessoas: insanas, insensatas,
Insensíveis aos segundos de vida que passam.

Mas o fim de tanta incerteza,
Talvez em um pequeno passo esteja.

Pelotas, janeiro de 2002.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A hora imprecisa do mau tempo

Talvez eu precise de um temporal para acalmar!
Ou de um simples vendaval para ordenar os pensamentos.

Talvez eu precise de chuva pra começar tudo de novo.
E, talvez, seja tudo igual.
Muda o cenário, os atores, mas a encenação é a mesma.
É uma só vida em diferentes atos.

Talvez eu só precise de uns minutos dentro de mim.
Pra me encontrar, ou me perder, achar o caminho.

Talvez eu precise de um tempo,
Pra saber o que é certo.
Mas nem tudo está errado.
São apenas dúvidas.

Talvez eu precise saber! E quem sabe?

Talvez um dia eu possa voar bem alto,
E descobrir de onde vem a chuva,
E para onde foge minha alma quando estou com medo.

28/10/2000

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Eu

[...]
Eu sou apenas um ser que luta,
E que deseja viver!
[...]

1997

Da linha do tempo à realidade

Você espera que eu diga apenas uma palavra sensata.
Pensa que dentro ecoa a razão.
Quer que eu durma somente uma noite,
Acorde com o sol,
Volte à realidade descendo da árvore dos momentos.

Você espera que nunca haja tempo.
Mas a noite é meu refúgio.
Abriga minhas confissões, e tem estrelas também.
Então meu vício é a loucura?
Isso que você chama loucura sem ver o mundo real das pequenas flores negras.

O que é real?
A beleza podre? A piedade dos anjos?
E como esperar mais que poeira azulada?
Quem é você? Onde está agora?
Esperando o sol? Tendo bons sonhos?
Caindo no chão? No barro vermelho?

Você espera que a vida seja real.
E espera atrás da muralha de pedra cinza.
Com olhos vendados,
Segue caminhos traçados,
Cobertos de flores amarelas envenenadas.

10/12/2001.

Canto ao Desencanto

O canto é livre,
Espanta da alma a inércia.
Canta!
Te expande e vive.

Por vezes exala dor,
Embriaguez.

Tanto tempo.
Tempo contínuo.
Em passos calados rodeando o fogo.

Vago pelos cantos,
E canto em pleno desencanto.

2003

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Sobre o sentido do tempo

Plano assimétrico,
Preso ao compasso acelerado do tempo.
Pano velho de seda guardado em pó,
Pranto de uma noite vazia,
da melancolia, do não-sentido.


Planos sobre o movimento caótico,
acelerado do atropelo.
Pintados no teto sem cor de uma sala vazia,
Saem dos cantos,
Procuram as linhas.
Indefiníveis cores preenchem os espaços vazios.


Plana leve e inquietante a incompreensão,
Abarca toda a irracionalidade,
Pretende ser constante,
e se desfaz nas úmidas paredes do descaso.


É onde se esconde a dor,
Onde lamenta o não-ser a existência.
É onde encontra razão.
E por fim,
Um breve sentido.


Cláudia Tomaschewski
2004

terça-feira, 21 de junho de 2011

Dias Vãos

Ao fundo soava com o vento,
Asas de pássaro batendo,
Asas gigantescas e inquietantes,
Asas de pássaro e de serpente.

O vento não soava mais que devaneios,
E preso à minha garganta,
No fundo a garganta ainda geme.

Desperta em mim,
E verás mantos de trepadeiras se esgueirando pelo céu.

Venta triste melancolia,
Esconde o temor da incerteza.
Ânsia e mansa solidão é o que sinto,
E presente em todos os sentidos a calma dos dias vãos.

Perder o controle já não é desrazão,
E no vento se prende um dia calmo.

Venta ainda a incompreensão,
Revolta, dá voltas, e gira com o tempo
A mágoa dos dias vãos.